Prólogo

O ATOR E AS CIDADES

O homem está na cidade
como uma coisa está em outra
e a cidade está no homem
que está em outra cidade

.....................................

A arte do ator é feita de chegadas e partidas, a cada cidade uma nova experiência, em cada uma ele deixa um pouco de si e leva um pouco de tudo: rostos, risos, lágrimas, histórias, vivências, sensações. O trânsito, a mobilidade é a pátria do despatriado ator, vagar entre culturas, costumes e tempos diferentes é sua sina e paixão, pois ele se compõe e recompõe de cada momento. Tolo é aquele que pensa que a arte morre, tem seu lugar determinado por marcas geográficas, por cronologias... a arte foge de todo e qualquer enquadramento, não cabe no mapa, pois é cigana, não (re)conhece fronteiras, ela se constitui a partir do trânsito, do vagabundear do ator, seu veículo. Em sua carne e expressões ela ganha corpo e reflete os rostos de todos os homens de todos os tempos, arguta e criativa, ela mimetiza o mundo e esse seu habitante conturbado, o Homem e é adsorvida por ele.

A 24ª Semana Luiz Antônio traz a criativa itinerância que brota da releitura de grandes clássicos, de personagens que vagaram pelo mundo e foram incorporando os novos tempos, as novas cidades e estéticas. Em seus corações pulsam as lembranças da origem, mas em suas vestes o novo, o arrojado trânsito por locais insondáveis. E como diz o poeta:


a cidade está no homem
quase como a árvore voa
no pássaro que a deixa.

Ferreira Gullar



Evoé! e muita Lu(i)z...



Flávia Marquetti



segunda-feira, 25 de junho de 2012

Doce desejo


Larissa, a cena com o chocolate em Penélope tem dois tempos, digamos, um primeiro, quando uma das atrizes o lambe em seu próprio dedo, sugestão de sexo oral em um homem, a cena toda tinha mais indícios disso que não vem ao caso no momento; a segunda, quando uma passa o chocolate no rosto da outra, que é a da sua pergunta, estabelece um paralelo entre as ações sexuais dos casais, sexo oral em um homem é esperado, para não dizer exigido, mas na mulher não, o uso do chocolate também tem outro efeito legal, parece sujeira. O texto em vários momentos falava dessa “disposição” da mulher em se submeter aos desejos do homem, mesmo quando ele está sujo, mas na hora de ter seus desejos satisfeitos... ninguém atende, como na cena em questão. Claro que isso é minha leitura, pode ter outras... 


Flávia Marquetti

O masculino em Penélope


Larissa, não podia deixar de comentar a tua postagem, você falou dos elementos que caracterizaram o masculino na peça Penélope Vergueiro, muito bem colocado. Os pintinhos de brinquedo, no final, arremataram toda uma simbologia que já vinha se desenhando ao longo da peça com as camisas; com as garrafas d’água despejando seu líquido no balde; com as cuecas, manchadas de batom, e os falos medidos em fita crepe; ou ainda os dois ovos quebrados e batidos na tigela, elementos que colocaram em cena a presença do masculino por meio de metonímias ora sutis, ora mais explícitas e que, geralmente, estavam contidos (ou foram colocados) em objetos ligados ao feminino, como o balde, as bolsas, de onde saíram as cuecas, a tigela... formas arredondadas como o útero, em suma, a mulher é quem gera e educa o opressor e cabe a ela quebrar esse círculo vicioso. Penélope foi, certamente, uma das melhores peças da semana.
Flávia Marquetti

ZAP


E para finalizar a última noite da 24ª SLAMC, o pique e a poesia do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos. Uma inventiva forma de trabalhar a poesia e a interpretação é a proposta do ZAP, Zona Autônoma da Palavra, tirando a poeira dos saraus e dando voz aos novos poetas. O Núcleo Bartolomeu animou a noite, sobretudo, com o SLAM, que funde poesia e performance em uma contenda poética, disputada acirradamente pelos poetas vindos com o grupo e pelos poetas da casa, venceu um dos poetas de Araraquara, Guito Britto, mas também todo o público presente. Destaque para a emocionante homenagem feita a Luiz Antônio com a leitura de um trecho de um de seus textos.
Para os que acompanharam a 24ª Semana Luiz Antônio foi uma semana de encontros, trocas, novas amizades e a certeza de que o teatro...
“...o Teatro, meu amor, é para quem não se aguenta, é para quem de tanta vontade, de tantas mentiras... transborda de humanidade e escorre em vidas...” (Guito Britto)
EVOÉ !!!
Flávia Marquetti

domingo, 24 de junho de 2012

A PEREIRA DA TIA MISÉRIA


Um encerramento maravilhoso para a 24ª Semana Luiz Antônio, em pleno dia de São João, o Núcleo Ás de Paus nos brindou com uma apresentação excepcional, Pereira da Tia Miséria. O texto, com forte influência do teatro Medieval, é belíssimo. O tom das moralidades percorre toda a concepção cênica, complementada pelas canções magnificamente interpretadas pelos atores, que em suas pernas de pau alçam o espetáculo aos céus. As atuações são estupendas, a caracterização: figurino, maquilagem, adereços de cena, cenário... impecáveis, a todo momento o grupo nos fez perder o fôlego, desde a entrada, quando os integrantes, já em pernas de pau jogam serragem no semi círculo para delimitar o palco; passando pela deliciosa caracterização dos dois garotos que agilmente sobem, sempre em pernas de pau, na enorme pereira  para roubar as peras; pela entrada de Tia Miséria e seu cão, sem nome, apaixonante, e assim sucessivamente, como na cena do bêbado/santo; na cena da Morte e de pequenos personagens, presos à canela da perna dos manipuladores, um delírio; até o final, com a imagem da Tia Miséria em sua pereira... eternamente aguardando seu filho, Fome, e os atores, agora sem as pernas de pau e apenas com a base do figurino, comum a todos, de cor cinza (que nos faz lembrar da nossa essência...pó, cinza e mais nada), entoam seu canto final.
 Descomunal, é a melhor palavra para definir o espetáculo, quer seja, na grandiosidade da árvore, da Pereira, com seus guarda-chuvas verdes esburacados, quer nos personagens gigantescos que nos exigem um olhar para cima, para fora do contexto da vida normal, quer na grandeza da mensagem e da arte realizada pelo Núcleo Ás de Paus.


 Flávia Marquetti








Fotos: Lívia Cabrera

MEU TRABALHO DE AIMIRIM


A Cia Tárcio Costa já tem lugar cativo na Semana Luiz Antônio e como em outros anos apresentou uma peça divertida, com pique e muita música. Tendo como base os direitos das crianças, a peça educa, sem ser óbvia. Explorando a interação com a platéia o trio soube usar muito bem as respostas das crianças e dos adultos para construir as cenas e tornar a peça ágil. Com ótimas canções, utilizando diversos instrumentos musicais, algumas palhaçadas e surpresas, como o boneco que surge de dentro de uma bolsa, a Cia envolve pais e filhos em suas brincadeiras. A garotada se divertiu e mesmo os mais tímidos acabaram se soltando e caindo na farra com o grupo. O teatro infantil cresce cada vez mais em nossa cidade, bom para as crianças e bom para o teatro no futuro.
Flávia Marquetti





Fotos: Lívia Cabrera

Os Fidiarvim e o sol de Araraquara


Wilton, o pessoal d’ Os Fidiarvim nasceu lá do núcleo de teatro do SESI, daí a brincadeira  com o nome, “os filhos de Alvim”, ou seja, do Álvaro ... e, claro, eles são de Araraquara, quem dirigiu foi a Leila Marroco, que você conhece, ora! E foi muito gostosa mesmo a apresentação.
Flávia Marquetti

ÍTACA


Larissa, respondendo à sua postagem sobre Penélope Vergueiro, sem dúvida se deve ficar atento às três atrizes da peça, pois são ótimas, mas temos que ficar atentos também ao seu diretor, Carlos Canhameiro. Quando vemos uma peça é natural que o nosso primeiro comentário seja para a cena, para o desempenho dos atores e geralmente esquecemos que há alguém por trás disso tudo, que orquestra esse conjunto, o diretor. É claro que os atores têm toda uma parcela significativa, para não dizer essencial, na construção de seus personagens e cenas, mas é o olhar do diretor, sua concepção do espetáculo que os reúne ao restante, como iluminação, cenário, música etc. Um bom diretor cria o espetáculo para seus atores e para o público, ele é o responsável por erguer esse delicado castelo de cartas que é a cena e Carlos Canhameiro é muito bom nisso, generoso com seus atores, pois lhes propicia todo um conjunto de circunstâncias para realizar sua arte e juntos, diretor e atores, oferecem um trabalho sério, responsável e sensível ao público, permitindo que a magia do teatro se concretize. Canhameiro participou no ano passado da Semana Luiz Antônio, com O Horácio, da X Turma de Teatro da Barão de Mauá, lembra?! O Horácio também fez uma ótima apresentação na SLAMC, portanto, vamos ficar de olho no trabalho de Carlos Canhameiro.
Flávia Marquetti

Seguidores